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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Um olhar sobre as diferenças

SKLIAR, Carlos. A Surdez: Um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2005, 3ª Ed. 192 p.


Diante de tantas teorizações no universo da surdez, fica notório observar que não há uma teoria específica para defini-la, a não ser adentra-se juntamente com as comunidades surdas, as escolas, os intérpretes de língua de sinais, e, sobretudo no processo de formação dos professores ouvintes. Com tudo, há uma ressalva no que diz respeito a identidades surdas, histórias e desencontros dos discursos hegemônicos sobre a surdez, ruptura entre educação de surdos e a educação especial, práticas discursivas e dispositivas pedagógicas na relação entre educação e trabalho, artes e culturas surdas, relações entre estudos surdos e estudo de gênero, o currículo como território de colonização dos ouvintes sobre os surdos, os novos paradigmas da escolarização, o processo de formação de novas comunidades surdas, etc. Assim, essa diversidade de discursos e práticas educacionais permite desnudar os efeitos devastadores do fracasso escolar massivo, produto da hegemonia de uma ideologia, clínica dominante na educação dos surdos. Durante muito tempo a história dos surdos foi marcada por grandes lutas e perdas, mesmo com o passar dos anos, eles ainda não conseguiram adquirir seus direitos educacionais e de cidadania, de fato algumas mudanças vêm ocorrendo, o surdo agora é um sujeito da sociedade e não é mais visto como um ser anormal, porém, a crise pedagógica nas escolas continua como a questão das línguas: a língua de sinais/língua oral. Por conseguinte, a um número grande de representações sobre a surdez, a língua de sinais é o meio mais eficaz para resolver a questão da realidade dos surdos, mas não um caminho para a construção de uma política de identidades surdas. Desse modo, incluem-se representações sobre a surdez como deficiência auditiva e como construção visual, que nos obriga a conduzir a nossa reflexão numa dimensão especificamente política. A distribuição entre a diversidade e diferença conduz ao debate sobre o lugar que corresponde aos surdos na educação especial e na educação em geral. A aproximação com esta temática pressupõe uma diferenciação entre o significado que tem a escola especial e o sentido possível para uma educação de surdos, anulando a sua habitual sinônima. Também é necessário romper com a tradição segundo a qual, uma vez reconhecido o fracasso da escola especial, aparece de maneira implacável uma única opção: a escola inclusiva. Isto é, o imperativo da integração escolar dos surdos nas escolas regulares, sem ao menos uma revisão no tocante do aperfeiçoamento dos docentes. Dessa forma, entende-se que, o que fracassou na educação dos surdos foram às representações ouvintistas acerca do que é o sujeito surdo, quais são o seus direitos lingüísticos e de cidadania, quais são as teorias de aprendizagem que refletem as condições cognitivas dos surdos, quais as epistemologias do professor ouvinte na sua aproximação com os alunos surdos, quais são os mecanismos de participação das comunidades surdas no processo educativo, etc. Não há, então nenhuma razão que justifique a reprodução de um olhar quantitativo, de uma medida do fracasso. O que se faz necessário é o surgimento de novas e variadas perspectivas qualitativas. Diante dessa abordagem é evidente que a educação dos surdos não fracassou, ela apenas conseguiu os resultados previstos em função dos mecanismos e das relações de poderes e de saberes atuais. Com a influência de europeus a língua de sinais passou a ser vista como a língua apropriada para educação de pessoas surdas, em pouco tempo, vieram os resultados positivos da metodologia utilizada pelo fundador Abade de L´Epée, onde favoreceu para o surgimento de inúmeras escolas com profissionais surdos e ouvintes. Essas escolas utilizavam às línguas de sinais nacionais, na qual explorava os recursos visuais como a base para uma pedagogia especial, onde a religião, a moral, a formação profissional e a língua nacional constituíam o núcleo do currículo. Ainda nesse contexto vários pensadores interessados na surdez buscavam uma razão para entender qual seria a forma educacional adequada para tratar às pessoas com surdez. A filosofia Sensualista, ao defender uma evolução da língua e da razão a partir dos sentidos em direção à abstração, determina que a língua de sinais por estar limitada aos gestos não passa de um nível inferior da espiral evolucionista, tanto na inteligência como no pensamento. A partir de então passou-se a ser proibido qualquer forma de expressão dos surdos através de sinais. Todos os professores, tutores e surdos adultos foram afastados do meio escolar, deixando-os sem nenhum tipo de comunicação. Essa erradicação da língua de sinais foi ainda mais reforçada no Congresso de Milão, nesse evento onde se reuniram profissionais dedicados á educação dos surdos, consagraram a supremacia da língua oral, em favor da pureza natural da palavra falada, na qual a razão manda na emoção. Segundo eles, essa erradicação levaria os surdos de volta para a sociedade, fazendo com quer as resoluções do Congresso parecessem razoáveis e progressistas. As linhas divisórias as fronteiras aparentemente simples, provocam afastamentos com repercussões sociais graves. Para seguir uma aproximação é preciso reconhecer uma distância, determinada pelos usos distintos do corpo e das modalidades lingüísticas. Os estudantes surdos usam, preferencialmente, a língua de sinais, envolvendo o corpo todo, no ato da comunicação. As lutas por identidade no espaço escolar implicam uma atenção especial para o conceito da diferença, um aprofundamento nas discussões referentes à diversidade cultural, uma posição critica frente aos poderes da linguagem social e dos discursos hegemônicos. Em virtude dos fatos relatos, torna-se evidente que os surdos sofreram e ainda sofrem, visto que alguns direitos foram conquistados, mas ainda faltam muitos a conquistar.

Palavras-Chave: Surdez. Língua Sinais. Multiculturalismo. Escola para surdos.

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